Em sua 54ª edição, a Bienal de Veneza evidencia a arte contemporânea como instrumento estratégico nos jogos políticos internacionais
15 de Junho 2011 - Veneza , Itália
Desde o seu lançamento, em 1895, é comum que vários países ofereçam aos seus artistas renomados, uma vitrine em pavilhões nacionais na Bienal italiana. Este ano, 89 países, número mais elevado da história do evento, disputam, não só por atenção, mas pelo reconhecimento externo. Prova da propagação mundial da arte contemporânea como ferramenta estratégica nas relações internacionais.
As exposições são financiadas geralmente por seus Ministérios de Cultura ou Ministério dos Negócios Estrangeiros, como a Inglaterra. Também há casos em que colecionadores ou empresários particulares patrocinam um pavilhão, como aconteceu com a mostra ucraniana este ano, que foi paga por um colecionador particular, da Polonia. Nesse contexto, gestos políticos são inevitavelmente colocados em questão e se tornam uma outra maneira de deixar sua marca em Veneza. Em 2011, o questão da imagem ficou bem explicita no pavilhão polonês, entregue a Yael Bartana, um artista de vídeo israelense. O pavilhão apresenta uma trilogia de filmes sobre o movimento renascentista judeu, um grupo político fundado pelo artista que solicita o retorno dos judeus para a Europa Oriental. O gesto polonês foi considerado como um sinal de nação generosa e muito apreciado pelos conhecedores do mundo da arte.
Ao contrário de gestos generosos, o evento pode ser palco de protestos. Em frente ao pavilhão norte-americano, Allora & Calzadilla, uma jovem dupla artística que vive em Porto Rico, instalou "Track and Field". Um atleta olímpico ativa uma esteira montada em um tanque militar trasmitindo a mensagem de que a guerra vai a lugar nenhum, e é tão melancólica quanto o barulho gerado pela máquina. Ainda mais bem-sucedida é a escultura que os artistas têm instalado no interior do pavilhão: "Algoritmo". Um órgão feito de tubos com um caixa automático em pleno funcionamento. Os amantes da arte, ao sacar seus euros, encontram-se envolvidos na efervescência dos acordes produzidos pela obra.
Os pavilhões que oferecem um ambiente conceitual convincente são os mais célebres. Um número de expositores veteranos optaram por esta via, incluindo a Alemanha, que este ano recebeu o cobiçado prêmio Leão de Ouro, a maior honra da feira. A exposição foi dedicada à obra do diretor teatral Christoph Schlingensief, o único diretor alemão capaz de desenvolver uma linguagem universal de arte para si mesmo. Sua técnica era abrangia o teatro, ópera, literatura e cinema.
Os recém-chegados às vezes acreditam que o seu pavilhão deve representar a sua nação, como se fossem uma agência turística e se esquecem do valor artístico de suas obras. O espaço do Azerbaijão sofreu este destino. Aidan Salakhova exibiu duas esculturas: "Esperando Noiva", uma mulher coberta com um véu preto, e "Black Stone de Meca", uma escultura em mármore que, pelo formato, pode sugerir o órgão genital feminino. Ilham Aliyev, presidente do Azerbaijão, ao vistar a Bienal, se ofendeu com a obra, que foram imediatamente envoltos em lençóis brancos e estão prestes a ser removidas.
Mas, a grande polêmica foi destinada ao pavilhão italiano, host da Bienal, que sob a curadoria de Vittorio Sgarbi, historiador de arte, foi intitulado "A arte não é Cosa Nostra". O curador, em comemoração ao 150º aniversário da unificação da Itália, exibiu obras de cada capital regional ou grandes cidades de prestígio artístico, com o objetivo de documentar a qualidade da arte em todo o país. No entanto, na opinião de alguns críticos, o ambiente mais parecia um “bazar de quinquilharias”.
Arte Brasileira em Veneza
Fontes complementares: The economist, Correio de Uberlândia, Wikipedia
Imagens: divulgação
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