“Cultura é aquele todo complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e aptidões adquiridos pelo homem como membro da sociedade”. Edward B. Taylor

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Por que viajar?

 

Recebi o texto abaixo de Ricardo Freire e achei muito interessante. Talvez seja um dos textos mais plagiados da internet, ou talvez nem seja mesmo do Ricardo Freire, ou quem sabe, já tem várias vírgulas acrescentadas aqui e acolá para diferenciar do original.

O fato é que vale a pena ler e se deliciar:

“Viajamos para fugir de tudo. E para ter saudade de casa. Viajamos para descansar. E para voltar mais cansados do que fomos. Viajamos para nos livrar das obrigações de todo dia. E para ter a obrigação de visitar dois museus e três monumentos todo dia. Viajamos para experimentar coisas diferentes, e para ter dor de barriga. Para comprar o que não precisamos e pagar com o que não temos. Para entrar em igreja e andar de metrô. Para não entender os outdoors, para desobedecer alto-falantes e para nos equivocar com cardápios. Para gentilmente pedir a desconhecidos que tirem fotos que depois vamos obrigar os conhecidos a ver. Para investigar se os McDonald’s que lá gorjeiam não gorjeiam como cá. Para fazer extensos tratados sociológicos sobre povos estranhos já no primeiro dia de estada. Para na volta ter quilos de histórias para contar e toneladas de quilos para perder.

Nada é tão motivador como a possibilidade de viajar. Na expectativa de uma viagem, pedidos de demissão são engavetados, casamentos são prorrogados, filhos são adiados. Em casos mais extremos, casas próprias deixam de ser compradas, carros escapam de ser trocados, videocassetes se conformam com menos cabeças que o do vizinho. Tanto sacrifício tem uma recompensa garantida: pouco a pouco você vai se tornando um sujeito “viajado”. E não existe nenhum adjetivo mais charmoso, nenhuma qualidade tão sem contra-indicações quanto ser “viajado”. Ser viajado é mais simpático do que ser “culto”, mais interessante do que ser “inteligente” — e quase tão bacana quanto ser “rico”.

Mas ninguém viaja por interesse. Até porque, depois do sexo, viajar é a diversão interativa mais antiga de que se tem notícia. Além de serem as duas coisas mais prazerosas da vida — e funcionarem esplendidamente em conjunto — sexo e viagem compartilham inúmeras outras semelhanças.

Não importa o que digam os interneteiros, o certo é que ambos só se realizam plenamente ao vivo. Um costuma durar pelo menos 30 minutos, a outra pode durar até 30 dias, mas a sensação é que tudo passa depressa demais, não foi? É bom quando é inesperado, tem seu valor quando é rapidinho, há quem goste quando não existe compromisso. Porém, assim como no sexo, nada faz tão bem a uma viagem como a combinação de três fatores:

● desejo;
● envolvimento;
● preparação.

A viagem acalentada, cortejada, paquerada (quanto mais difícil, melhor), carinhosamente pesquisada (uma espécie assim de namoro), com uma preparação dedicada e minuciosa (o equivalente das preliminares), sem dúvida dá muito mais satisfação — e uma satisfação mais duradoura — do que aquela viagem que você mal conheceu e já quer levar para o aeroporto”.

sábado, 18 de setembro de 2010

E como fica a questão da cultura nas eleições?

Munique, Alemanha – 18 de Setembro de 2010

Acompanhando, ainda que de longe, as disputas pelas eleições presidenciais no Brasil, e como membro da classe cultural brasileira, permanece em mim a seguinte questão: Quais são as propostas para o setor cultural brasileiro de cada um dos candidatos?

Pesquisando sobre o assunto, percebi que o jornalista Fernando Brant também se ateve a mesma questão. E ele, no site cultura e mercado, fez alguns questionamentos interessantes. “os candidatos não têm propostas para a cultura por que as pesquisas não apontam cultura como prioridade? Ou as pesquisas não revelam cultura como prioridade por que a mídia não cobre o assunto?”. A pergunta ainda fica no ar. Mas o fato é que não há muita preocupação dos candidatos em expor o assunto em seus planos governo.

Considerando a última pesquisa encomendada pelo Ministério da Cultura, nota-se que 95% da população nunca entrou em um museu, só 13% dos brasileiros vão ao cinema e 17% compram livros. Ou seja, a situação é grave, não é assunto para ser deixado de lado. O ministro da cultura Juca Ferreira, em entrevista ao site do MINC, afirma “Cultura deve ser tratada como necessidade básica, é um direito do brasileiro. E o Estado deve suprir essa necessidade”.

Pesquisando nos sites dos três principais candidatos, vejamos o que podemos esperar para os próximos quatro anos:

Dilma Rousseff

No site da candidata existe um espaço para discussão de propostas culturais, mas o mesmo encontra-se vazio, sem conteúdo. Existem algumas matérias relacionadas a inaugurações, eventos de lançamento de projetos e programas governamentais, mas nada de propostas concretas. Para encontrar algum material, é necessário assistir seus vídeos. Em entrevista, Dilma afirma que o orçamento da cultura já chegou a R$ 2,2 bilhões, e defende o projeto que revoga a Lei Rouanet. Sem muita criatividade, ela bate na tecla de projetos criados no governo passado, mas ainda não implementados, como o “Vale Cultura” e o “Cinema perto de você”. Ela fala ainda sobre a criação de um fundo social para o setor no projeto de regulamentação do pré-sal e defende a melhor divisão de recursos entre os Estados e mais parcerias com a iniciativa privada para financiar bens culturais.

Marina Silva

A candidata do Partido Verde, expõe no site sua proposta para gestão cultural, integrando as políticas culturais com as da educação. Foca na continuidade da descentralização das políticas, ações e investimentos e promete levantar o PIB real deste setor. Ela propõe que os investimentos na cultura cheguem a dois bilhões anuais (o dobro do valor atual) por meio da criação de um Fundo Nacional de Cultura. Propõe maior acesso aos bens culturais por meio da tecnologia digital e uma reforma na Lei de Direitos Autorais. Reforça ainda a cultura popular, as minorias étnicas tais como comunidades indígenas, afro descendentes, e os deficientes físicos e idosos, combatendo a discriminação e reforçando os direitos culturais.

“A política cultural no Brasil deve abranger o conjunto múltiplo das formas de pensamento, sensibilidade e expressão dos vários segmentos da população. Para isso, precisa estar articulada com a educação, integrada com o desenvolvimento sustentável, com foco na incorporação dos aspectos ligados à proteção e promoção da diversidade das expressões culturais, nas áreas urbanas e nos diferentes ecossistemas. É preciso democratizar os meios de produzir, circular e acessar os objetos culturais”.

José Serra

O candidato, assim como Marina, possuía um espaço no site dedicado exclusivamente ao tema. Mas, diante das pesquisas eleitorais, realizou uma reforma na página virtual, focando na auto-promoção e deixando as propostas escondidas. Segundo entrevistas e discursos em debates, a abordagem de Serra em relação à cultura, reforça o pensamento neoliberal, enxergando cultura apenas como ativo econômico. Despreparado, o candidato afirma em encontro com artistas no Rio, que não conhece muito sobre a situação da cultura, que precisa estudar mais sobre o setor. Em suas propostas, fala superficialmente de suas realizações, como a Virada Cultural, visando a expanção o evento para outras cidades do país. Cita o programa de fomento à dança, diz que pretende ampliar as fábricas de cultura nas periferias das grandes cidades e diversificar o financiamento.

Serra afirma ainda que a decisão dos projetos culturais não deve ser tomada apenas pelo governo, mas também pelo setor privado. “Acho que as decisões devem ser divididas entre artistas, governo e empresários", afirmou o tucano.

 

Dá pra chorar? Enquanto Educação e Cultura não forem prioridade, o nosso país vai continuar seguindo no caminho da acomodação, conformismo e alienação de sempre.

domingo, 18 de julho de 2010

Onde o povo está

“Os sentidos. O teatro de rua é cara a cara. Olhamos para o nosso publico que tambem nos olha. Cheiramos nosso publico que tambem nos cheira. Tocamos nosso publico que tambem nos toca. Ouvimos nosso publico que tambem nos ouve. Dividimos comidas, bebidas e trocamos abraços sorrisos e beijos. Transformando uma simples tarde em um dia inesquecivel”.

 Harley Nóbrega

Uma grande praça, vinte grupos teatrais, dezessete países e artes performáticas. A 23a edição do Festival Internacional de Teatro de Rua em Cracóvia, Polônia, encantou os turistas e locais entre os dias 8 e 11 de Julho de 2010.

Produzido pelo grupo teatral KTO, o Festival esse ano teve o tema “Teatro-espaço: a cidade”. Isso porque as apresentações não deveriam se prender ao espaço central da cidade, mas também explorar os arredores e espaços alternativos como o muro da prefeitura e a Krzysztofory Gallery . Além disso, o Festival contou com mais uma novidade, cruzou as fronteiras de Cracóvia e também prestigiou a cidade de Nowy Sacz, a 100 km ao sul.

Foram convidados dezesseis grupos estrangeiros da Holanda, Romenia, Iran, França, Espanha e Grã Betanha e quatro grupos Poloneses. 

O público participou ativamente das aprensentações, superando as expectativas dos organizadores, de 60 mil espectadores.

Entre as performances, vale destacar o espetáculo “Pop up” do grupo holandês Slagman Producties. Os dois atores conseguiram manter grande interação com o público apenas usando uma caixa de madeira e um quadro de giz. A excelente atuação de ambos fez com que o quadro e o caixote transformassem e re-transformassem o cenário e a cena a todo momento: a princesa e o príncipe, o rei e o bobo da corte, o ladrão e o policial, entre outros.

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Quadro de giz como cenário, criatividade que prendeu a atenção do público.

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O idioma inglês não inibiu a participação do público.

Outro grupo de destaque foi o grupo Romeno The Masca Theatre, com o musical The Merry Guards' Return, onde varios “hits” internacionais eram apresentados de forma cômica e representando diversas nacionalidades. Todos os atores cantam ao vivo e dançam numa performance repleta de efeitos visuais.

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Hit “La paloma blanca”, representada em espanhol.

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“Banana Boat Song”, cantada em inglês.

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O público prestigiando o Festival. 

O fechamento do Festival também foi digno de reconhecimento. O grupo francês Transe Express apresentou o espetáculo Mobile Homme, onde os performers ficavam pendurados numa estrutura metálica que simula um  móbile, tocando tambores, enquanto uma artista circense fazia estripulias no ar. A estrutura, presa num guindaste, circulava toda a praça central, num efeito de som e luzes inesquecível. Como os antigos tempos de FIT em Belo Horizonte (eles estiveram em BH em 2007).

Confira: